domingo, 23 de outubro de 2011

A arte da benzenção


Não obstante os avanços da medicina no século XXI, que ajudam os médicos nos diagnósticos, nos processos de compreensão das doenças e nos tratamentos possíveis, que buscam não apenas a cura física, mas também a psicológica, ou melhor, referindo à cura da “alma”. Diante te tantos avanços na medicina é possível acreditar que praticas tão antigas como o “benzimento” estaria extinta.
No entanto o uso de orações para curas de doenças do corpo e da alma está em plena vigência e atinge todas as classes sociais. A busca da cura através do benzimento é pratica antiga, utilizada pelas pessoas desde a Idade Media na Europa.
No Brasil os benzedores surgiram a partir do século XVII na sociedade colonial. Para Priore (2007, p, 78) Nos primeiros tempos de colonização, homens e mulheres acreditavam que a doença era uma advertência divina. A essa concepção de doença como fruto de uma ação sobrenatural é que o saber da benzedeira emana, sobretudo, do dom atribuído a Deus, visando que na medicina popular “corpo e espíritos” são inseparáveis.
A falta de profissionais de saúde e a falta de remédios no Brasil colonial proporcionaram o surgimento de uma ciência que usou o conhecimento indígena, africano, mestiço e europeu para curar doenças que afligiam as pessoas. A pratica de cura era feita através de ervas, rezas, chás e bendições.
Mesmo com o avanço na medicina muitas pessoas ainda hoje recorrem às benzedeiras para os diversos tipos de tratamentos. Benzedeiras atestam que o sofrimento humano pode ter muitas causas: quebranto, a lua nova, a espinhela caída, um osso rendido, o ar brabo, o alimento quente, uma praga rogada, um castigo de Deus, do Santo ou do Orixá, o encosto, o feitiço e muitas outras causas. Benzedor e paciente fazem o tratamento de acordo com o que lhe aflige podendo então utilizar não somente as orações, mas também remédios e simpatias. Tendo diagnosticado o paciente, elas benzem, preparam e receitam chás, garrafadas, banhos, ungüentos e amuletos protetores.
Sem cobrar pelos serviços prestados, pois consideram suas praticas um “Dom de Deus” e por Jesus ter levado a palavra de Deus sem nada cobrar. Realizando seu ritual a todo o momento e para quem precisar dizem que pedem a Deus que cure à pessoa, por que se a procurou é por que está precisando de Jesus, logo preparam em preces e alento que aliviara o enfermo. Munidas com galhos de peão-roxo ou de vassourinha, expurgam as enfermidades do corpo humano.
As benzedeiras apelam para santos católicos, entidades de umbanda e personagens folclóricos brasileiros. Santa Luzia é evocada para curar males da visão. Com fé em Santa Brígida, a garantia do fim da dor de cabeça. Se engasgar, é só rogar por São Brás. O Preto Velho tira o mau-olhado de crianças. Aliar-se a São Jorge afasta ferimentos provenientes das lâminas frias de armas brancas. A Escrava Anastácia livra das perseguições e injustiças. Santos fortes para rezas fortes. “Mas, garante os religiosos, maior que qualquer santo é a fé de quem procura a bênção.”

O poder de cura das benzedeiras vai além do que é tido como racional simples frases proferidas com fé atenuam o sofrimento do corpo e aliviam a alma, fazendo com que seu trabalho se torne tão importante que até os profissionais mais letrados reconhecem seu oficio.

Referencias
QUINTANA A. A ciência da benzedura. São Paulo: EDUSC; 1999.
LUZ, M.T. Cultura contemporânea e medicinas alternativas: novos paradigmas em saúde no fim do século XX. Phisys, Revista de saúde coletiva, v7, n1, p 13-49,1997.
BURKE, Peter. Cultura popular na Idade Moderna. 2° edição. Tradutora: Denise Bottmann. São Paulo, Companhia das Letras, 1998.
CHAUÍ,       Marilena:   Conformismo        e  Resistência:   aspectos   da     cultura   popular    no Brasil. 3ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1989.
FIGUEIREDO, Betânia Gonçalves. A arte de curar. Cirurgiões, médicos, boticários
e   curandeiros   no   século   XIX   em   Minas   Gerais.   Rio   de   Janeiro:   Vício   de   Leitura, 2002.
MOTT, Luiz. Cotidiano e vivência religiosa: Entre a capela e o calundu. In Laura de
OLIVEIRA, Elda Rizzo de. O que é benzeção. São Paulo: Brasiliense, 1985.















quarta-feira, 12 de outubro de 2011

No som da Sanfona



Surge na china a 3000 anos antes de Cristo um instrumento musical chamado de “tcheneng” que seria precursor do acordeom, posto que este só fosse inventado em 1829 pelo austríaco Cyrillus Demian, no entanto somente em 1936 são publicados em Viena os primeiros métodos de ensino do revolucionário instrumento.Sir Charles Wheatslone, registra a patente do mesmo instrumento, chamando-o de concertina.
Segundo Ernesto Veiga de Oliveira, a sanfona, com capacidade sonora enriquecidas e simplificada nas suas características funcionais e estéticas, representa a “laicização organistrum” que por volta do século XIII, foi destronado na musica de igreja pelo órgão. A partir desse momento a sanfona cai no gosto popular e passa a ser utilizada por pobres e nobrezas em suas festas e cantares.
A sanfona chegou ao Brasil junto com os imigrantes alemães e italianos e foi popularizada na década de 50. Fixando a principio nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Sendo utilizada nas festas como representação cultural das comunidades emigrantes, embalando os ritmos de valsa, a polca e o fado.
Ao ser conhecida nas demais regiões brasileiras a sanfona foi ganhando características pessoais das regiões e também várias denominações como sanfona, no Nordeste; gaita, gaita de fole e realejo no Sul.
O responsável por popularizar a sanfona no Brasil foi o inesquecível Luiz Gonzaga, considerado o Rei do Baião. Que além de popularizar o instrumento, difundiu a denominação de sanfona, sendo que ainda hoje os sons deixados por esse grande mestre embalam e inspiram o povo brasileiro.
É possível afirmar que “a sanfona ainda não desafinou” e que continua firmando seu espaço na cultura popular brasileira. Exemplo disso é o Sr Lourival dos Santos popularmente conhecido como Sr Nenga, que aos 96 anos tem a sanfona como uma diversão.  Sr Lourival filho do Sr Pacifico dos Santos, nasceu em Boa Nova e deu inicio a sua amizade com a sanfona ainda aos 10 anos de idade, tendo aprendido a tocar com seus irmãos mais velhos. Veio morar em Valentim com mais ou menos 18 anos de idade e teve a olaria como fonte de renda, trabalhou também no Sul da Bahia nas colheitas de cacau. *“Fim de tarde quando terminava o trabalho eu juntava com meus amigos para tocar serenatas... era nossa diversão.”
Sr Nenga além de um excelente sanfoneiro ainda pedala sua bicicleta, mostrando que a idade não é uma barreira para praticar o que gosta de fazer.
Lucimary Torres
*Trecho da entrevista feita com o Sr Lourival dos Santos



segunda-feira, 10 de outubro de 2011

As portas estão abertas....Museu do Processo


Estamos no momento de construção deste... Vai sendo edificado a partir da escuta dos processos em andamento dos municípios que compõe a sub bacia do Rio Gongogi. O museu tem a missão de promoção da cultura e do dialogo entre o conhecimento cientifico e o saber popular, reunindo imagens e sonoridades da região, contemplando imaginários e pratica culturais tornando os processos inerentes a cultura, a educação e a ecologia como fonte de interesses, além de guardar a memória do Município e ser espelho para o mundo na vivencia comunitária, com uma visão de sustentabilidade.
A proposta inicial e conter nele vários espaços de conversas, entretenimento, biblioteca, salas de escuta e meditação, valorização da cultura local e intercambio com outras culturas.
O museu abriu suas portas dia 08 de outubro com a inauguração da biblioteca, com um acervo gigantesco de livros de alta qualidade e material áudio visual, musica de diversas culturas e um acervo de vídeos produzidos pela equipe da Via Magia no decorrer do Mercado cultural que fora realizado no povoado do Valentim e nas cidades de Boa Nova, Ibirataia, Ipiau, Dario Meira, Vitória da Conquista, Jequié e Salvador.
A gestão do museu esta sob a responsabilidade de uma equipe que faz parte Núcleo Gestor Um passarinho me contou (Anderson Dias, Arnobio Jr Meira, Carol Marinho, Eliene Lima, Juliana Moreno, Lucimary Torres), pessoas estas que estão no processo desde os primeiros passos de edificação do projeto.
Com a proposta de escutar, entender e expandir...
(texto de Anderson Dias, Eliene Lima, Juliana Moreno e Lucimary Torres)